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Автор книги: Marcos Sassungo


Жанр: Современная зарубежная литература, Современная проза


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Marcos Sassungo
Um Julgamento de Contos de Fadas a Colarinho Branco

Julgamento de contos de Fadas a Colarinho Branco, é a priori uma obra que resulta de um casamente entre a realidade e ficção. Nomes, personagens e episódios a maioria resultam da imaginação do autor. Apesar de alguns nomes serem amistosos ao escritor, qualquer semelhança com pessoas, acontecimentos ou locais reias é pura conscidência


© Marcos Sassungo, 2018

© Logos Publisher, 2018

Dedicatória

Aos meus pais,

À minha ilha.

Eu, carinhosamene dedico este livro para ti.

Prefácio

Um julgamento de Contos de Fadas a Colarinho Branco é uma homenagem ao escritor Português Vergílio Ferreira que, com a sua obra “Aparição” de 1959, fez brotar em mim constelações de uma semente poética à margem de um mundo imaginário onde Batinho, o personagem principal da presente obra, tal como Alberto Soares de “Aparição”, vive as reflexões proféticas dos acontecimentos descritos num tempo real e psicológico nas cidades do Huambo e de Luanda. Os acontecimentos e reflexões que marcam os personagens pressupõem uma análise do existencialismo do ser, presente num passado que se adequa às vivências dos mesmos. Outros-sim, a partir da construção do existencialismo, há no presente romance, a construção da ideia de um tempo cronológico que se divide nas estações das vidas entre o Sr. Rafael e o Batinho, partindo do pressuposto da existência de um verdadeiro Deus, de uma força criadora, e de uma vida após a morte. Logo, o homem é indubitavelmente um ser da acção e do poder, mas nunca da vida. O Sr. Rafael é o narrador e o personagem secundário e, sobre ele o romance se desenvolve através das lembranças que viveu quando foi estudante de engenharia de Petróleo na República Federal da Rússia e das lembranças que reviveu com o seu pai na infância. O amor que sente pela sua esposa, dona Esmeralda, é baseado numa escolha consciente e independentemente da retroalimentação negativa do mesmo, e dos danos morais que Esmeralda lhe causara. Esmeralda surpreende-se com a atitude do Sr. Rafael em renovar os votos de casamento logo após descobrir, através de uma conversa, que o filho que esperava não era realmente seu, mas sim do seu melhor amigo. As analépses e prolépses que interrompem a história do Sr. Rafael também sucedem na vital história de Batinho, este que é o narrador e o personagem principal e sobre ele, há um parafrasear dos acontecimentos vividos consigo no seu eu existencial.

Batinho desdobra-se no pecualiar trágico romance com a Vanda, esta que logo depois viria a ser a sua irmã consaguínea. Todavia, as questões do existencialismo entopem as suas memórias: quem sou eu, de onde venho e para aonde vou? São as perguntas que ecoam na consciência solitária do ser, e estão logo presentes no cardápio do existencialismo humano, e no eu verdadeiro que surge em numerosas manifestações do quotidiano da vida singular de Batinho. Este, que abandona a cidade do Huambo para reviver as respostas da felicidade questionada num passado trágico e marcado por vivências alfabetizadas pelas pessoas ao seu redor, a pesar de ter vivido e recebido a oportunidade de viver uma vida financeira satisfatória. Em Luanda, Batinho revive as lembranças que salgam o seu passado, mas se abdica delas ao conhecer a Patrícia na noite da fogueira, ela que seria a vernácula actriz do seu coração apaixonado; diante das dificuldades, Patrícia ajuda-o a alcançar as metas dos planos emergidos de um limiar de sonhos, inclusive da felicidade que se iria desenhar no fim de um para sempre na vida de ambos.

Há sete anos, ao estudar “Aparição”, como um livro de leitura obrigatória, no Centro Pré-Universitario Católico, que hoje é o actual Liceu Católico do Huambo, na província do Huambo, em Angola, ousei escrever o livro “Um Julgamento de Contos de Fadas” em homenagem ao escritor e trazer à memória a sua imortalidade camuflada nas entrelinhas do mundo externo da literatura. A presente obra é um romance autodiegético, heterodiegético e, com uma linguagem literária a todos os níveis linguísticos. E agradeço, sobejamente, por o haver adquirido. Mais do que um romance, esta obra é um convite à reflexão do impecável paradoxo do existencialismo humano, aí onde o ser é o único paciente pronto para as cirurgias da vida. Sem mais nada a dizer, nada melhor do que desejar uma boa viagem à leitura.

Com muito carinho!

Marcos Sassungo, O escritor.

Capítulo I
O Amor

"E hoje olho para ti. Mesmo com esses anos todos… tu continuas a mesma garota de sempre. Linda, amável, respeitosa, carinhosa. Tu me trouxeste mais perto de Deus e eu amo-te como Ele me ama. É um mandamento que Ele me deu…"


Cinco da manhã desta quinta-feira. A garagem do meu globo ocular negava-se a fechar. E ansioso, percebi a madrugada nascer no labirinto daquela janela. Havia um silêncio total no bairro que se reflectia no claustro do quintal que testemunhava a minha dor, naquele momento. Comigo, a luz de uma lamparina movida a gasóleo felicitava-me enfim pela viagem já feita nas recônditas luzes do sabor das palavras daquele livro. Fiquei entediado e decidi arejar, arejar e arejar, e nesse arejar, convidei a porta que me desse a licença de sair e abraçar a madrugada com amor. Naquele dia, a lua recusava-se a esconder o brilho da sua beleza de tão brilhante que estava e as estrelas estavam ao redor e espalhadas por todo claustro do céu azul. A pupila, a córnea e a íris, convidaram o meu lóbulo ocular a entender o tamanho da beleza do céu, naquela madrugada sussurrante, mas tive insucessos. Olhando, demoradamente, não resisti. Onde ela está agora? O que ela está fazendo agora, Deus? Será que ela está a dormir ou a ver o céu como vejo agora? Como ela se chama, Senhor, onde ela vive? Será que eu a conheço? Enfim, foram as perguntas que borbulharam a minha consciência solitária naquela altura. Só queria que naquele momento o céu me mostrasse o retrato de quem viria a ser ela. A fé e a confiança em Deus aplaudiram o meu desejo e curiosidade em não saber prematuramente essa mulher que até naquele momento não sabia quem era.

Por conseguinte, nada sabia sobre a paixão, o ódio e o amor, sentimentos que passeiam nas avenidas do coração do homem. Ho! Amor, onde vives e por onde andas? A que distância de profundidade te encontras? Seria possível fazer a prospecção do seu endereço? Como posso eu te encontrar, amor? Não te mostres surdo ao meu pedido, venha e embebeda o meu coração de risos, corrompa os meus pensamentos com a dor da alegria. Seja educado com o meu coração, pois a sua beleza é um veneno e intimida os meus pensamentos. A sua beleza é um estímulo que pode provocar um radical livre no DNA das minhas emoções. Seja educado. Seja educado porque, ainda corres o risco de te tornares num oncoacelerador nas avenidas pulmonares da minha felicidade. Enfim, saí da presença entupida de uma reflexão profética que provavelmente viveria daqui há mais alguns anos. O luar, com medo do ronco das nuvens, escondeu a velocidade da sua alegria. E eu, entrei no meu quarto, claramente, obscuro. Depois de uma distância de horas, lá estava eu com os meus amigos no pátio da escola.

– Bom dia, Batinho.

– Olá! Bom dia, Tino. Ontem chegaste bem?

– Ya, cheguei e sabes que hoje teremos uma nova professora, não sabes? Perguntou.

– A sério? Já não será com o professor Mingo?

– Certamente, não. Fomos avisados pela directoria que hoje por essas horas teríamos uma professora nova. Disse ele.

– Ok, que novidade! Estou curioso. Quem será?

– Bem, pelo que se ouve dizer, não é uma boa professora, não.

– Hahahaha, deixe de ser medroso, homem. Diga lá quem será e pronto! – Disse eu.

– Será a professora Lai. E dizem ser uma professora má. – Disse o Batinho com uma voz de tristeza.

– Por exigir dedicação aos alunos ela é má? Perguntei eu e acresci: – Fecho os olhos que verei.

A educação é um processo longo e adequado. Mas inadequado quando não há exigência pelo educador. E quando não há exigência pelo educador, o educando vira um produto sem qualidade no mercado da vida.

E naquele momento, trocaram-lhes de docente e surpreendentemente, para aquela turma, vieram transferidos mais três colegas sendo que, duas delas eram filhas de uma professora. Foi assim que o Batinho conheceu a Carla. Surpreendentemente, a professora era exigente e amável. Aí está o sentido da educação. Quando ela é transmitida com amor e atenção aos educandos, ela produz para o mercado da vida homens e mulheres com qualidade cívica e moral. E considerando a escola como um dos sujeitos de socialização secundária, Batinho sentia-se aceito e amado, pois era conhecido por muitos estudantes daquela escola e outras.

Batinho e Carla conheceram-se ainda adolescentes. No final do ano, a turma toda foi aprovada para a décima classe e Carla foi de viagem para a Alemanha. Batinho, ao tomar conhecimento, entristeceu-se, pois pensava que seria para sempre.

A vida convida a tristeza e a alegria a juntarem-se à mesma mesa, mas a saborearem bebidas diferentes. E naquela tarde de sexta-feira, Tino convidou os seus amigos para uma partida de futebol no campo próximo da sua casa. Aquele campo que quando a chuva caísse, tornava-se num rio de lamas e, às vezes, sem barras para uma baliza. Contudo, tudo era um improviso; os limites do campo, as barras das balizas, as redes e inclusive a bola que claro, era feita de um embrulho de saco de várias cores.

– Hoje é sexta-feira, Batinho, vamos jogar bola. – Disse Tino.

– Eu não sei jogar bola. – Respondeu Batinho.

– Que tal seres um guarda-redes?

– Eu guarda-redes? Quem vai estar no campo?

– O Dosversos, o Manel, o Putson, o Cornelho, o Marquinho e o Mussungo.

– Ok! Vá à frente, que eu te encontro. Vou ajudar a minha mãe num trabalho e vou já ter convosco. E diga ao Dosversos que traga a sua bola, visto ser a melhor.

– Está bem… Encontre-nos.

– Mãe… Mãe. – Gritou o Batinho. E acresceu:

– Já aí vou, Mãe.

– Ajuda-me a arrumar a cozinha, só depois é que poderás sair de casa. – Disse a mãe do Batinho.

– Mas mãe…

Logo depois que ele terminou de ajudar a sua mãe, Batinho juntou-se aos amigos no campo de futebol, que ficava bem ao lado da sua casa. Ao reencontrar seus amigos, jogaram até o jogo ser interrompido por uma briga entre o Mussungo e o Marquitos, logo, Batinho e outros amigos tiveram de acudir. Marquitos não sabia jogar futebol. Ao invés de marcar para equipa oponente, fez golos à sua própria equipa, várias vezes. O futebol que era apenas um jogo, terminou numa briga e tanto que, Batinho e o Tino saíram, foram à casa, levando o Mussungo com eles. E durante o percurso, Batinho disse:

– Eu quero contar-vos algo.

– Vá lá, conta logo! – Disse o Tino, também tratado por Tibox.

– Trata-se da Carla.

– A Carla?! O que foi? Eu Ouvi de terceiros que ela está na Alemanha. Não?

– Sim, Tino, ela está, mas é como se eu sentisse saudades dela. Disse o Batinho num tom de um olhar apaixonado.

– O puto deve estar apaixonado. – Disse, sorrindo, o Mussungo.

– Explica-nos bem isso, Batinho. – Disse o Tino com uma voz de adulto, que soava a barítono.

– Ultimamente, não sei exactamente o que está acontecendo comigo. É como se ela substituísse os prolongamentos dos meus neurónios; penso nela o tempo todo, falo mais dela a Deus do que de mim mesmo. Sinto-me viciado pelos meus pensamentos e memórias que marcaram as nossas vivências e a sua imagem está digitada nas passarelas do meu lóbulo frontal.

– Eeeeeeeee, meu jovem, pára com isso! – Disse Mussungo e acrescentou: – Paixão, paixão, como ousaste raptar o coração do meu amigo? Como pudeste te infiltrar no plano sagital da felicidade agitada deste ser solitário, deixando-o ainda mais desalojado? Que direito terias tu de ferir um pobre coitado, e quem deferiu o pedido de tomares o controle da sua razão? Será que terás sido enviada pela vizinhança do Amor? Terá sido ele o culpado da tua presença ausente nas lamparinas do seu olhar apaixonado? Tenha compaixão dele e poupe-o das ilusões traiçoeiras, seja gentil. É um jovem prematuro e nada sabe sobre ti, sobre amor e sobre o ódio. Não converta o seu bom coração para as tuas mágoas e desilusões. Seja gentil, seja amável, e seja carinhoso.

Mussungo, disse o Tino. – Deixe o cara provar o amargo sabor da vida, o sabor que qualquer ser humano, obviamente, tem de provar pois, o mundo nos convidou para nascermos, depois crescermos e morrermos. A nossa liberdade está limitadamente predestinada. Mas na vida todos nós já tivemos uma paixão, já nos apaixonamos várias vezes e na mesma proporção nos desapaixonamos por conta das vicissitudes da vida que se perde e se acha nas questõs da metafísica. Ora, ele é um de nós, logo, precisa de provar do bom e do amargo sabor da paixão. Mas quando ela chegar, disse o Tino ao Batinho, faça-lhe uma declaração de amor, um banquete e um convite à paixão para ver, e o amor para testemunhar. Seja simples e objectivo e diga apenas ou apenas diga: “Carla, estou envolvido numa paixão de amor por ti”. E espera a reação dela e prontos. É natural que se espere dela uma retroalimentação positiva, mas não te enganes, pois, as mulheres são como uma célula; umas se adaptam a um antigénio e outras, simplesmente, respondem com repulsão a um corpo estranho num processo de exocitose. Se ela for afável e leve, igual a um gás hidrogenado, leve contigo os meus parabéns. Mas se for rude e pesada igual a um tóxico como um hexafluoreto de enxofre, seja forte o bastante, porque vai doer. Mas não vai ser o fim de tudo, não vai ser o fim da vida. E se sobreviveres a essa dor, os teus olhos abrirão a porta da verdadeira felicidade, da verdadeira realidade da vida, porque no mercado da vida o ser humano chora ao conquistar o que quer e a dor habita na felicidade da alma e na alegria das lágrimas. Seja forte. – Disse o Tino, que também era tratado por Tibox.

Batinho inclinou a cabeça para baixo e para cima num eixo anteroposterior em relação ao pescoço, sorrindo, pegou num vídeo cassete de um actor chinês Jet Lee, interpretando o Mestre das Espadas. O tipo aproximou o “deque” para frente e para trás, ligou a TV e convidou os seus amigos a assistir a trágica revolta de um guerreiro chinês que jura não mais perder uma luta sequer, mas que ainda assim, sua decisão em nunca mais perder, termina no assassinato da sua família inteira; o drama o transforma numa pessoa pacata, mas ainda corajosa o suficiente para combater a favor da china contra um lutador campeão inglês.

Lá eles se divertiram, comeram e beberam da quissangua que Dona Lurdes, mãe de Mussungo havia feito. Logo após o filme, saíram de casa e passaram a tarde na Rua Nova, um bairro vizinho ao bairro de Santa Goreth, mas famosamente conhecido como Santa Ngoti. Bem, a presença deles naquele bairro tinha como objetivo tomar conta das ruas. E para tomar conta das ruas, tinham de vencer uma briga com os jovens daquele e de outros bairros de preto e de cores adormecidas. Na verdade, Batinho não tinha só a Tino, também tratado por Tibox, como amigo. O seu grupo era de aproximadamente seis jovens adolescentes que encorporaram como membros activos daquela quadrilha de mimosos adolescentes que nada sabiam sobre a vida e seus perigos; eram tantos e isso sem contar com os mais adultos, porque em cada briga que perdiam, eles chamavam os mais adultos e fortes para enfrentarem os mais fortes. Enfim, a Rua Nova era um ponto de frequência diária e, embora eles tivessem essa bolada, ninguém, porém, consumia álcool ou cigarro. Apenas a ousadia de um grupo de adolescentes maduramente imaturos, fazia trêmulas as vivências de violências preconizadas por todo e qualquer um que ousasse a endocitar a barreira lipídica daquela bolada.

Numa manhã de domingo, Dona Esmiralda levantou-se cedo como sempre para orientar os filhos.

– Batinho,levanta-te, filho, hoje é domingo. Dá banho à tua irmã enquanto eu faço o pequeno-almoço. Vá lá, ajuda a tua mãe. – Disse a dona Esmeralda.

– Mas, mãe, agora tão cedo… Deixe-me dormir mais um pouco, por favor, deixe-me abraçar mais um pouco só, um pouquinho o sono, que nunca é inimigo de ninguém.

– Filho, acorda logo! Disse dona Esmeralda e acresceu: – no mercado da vida os homens fortes vencem os homens fracos, porque eles não treinaram seus corpos a vencer a dor.

Não treinaram seus rostos a vencer as lágrimas; não treinaram as suas mãos a vencer as tristezas. Tudo o que eles abraçaram foi o sono e preguiça. Foi a preguiça que consumiu o poder de venda dos homens fortes, porque eles não se mostraram, suficientemente, fortes para enfrentar a concorrência dos homens fracos. E tu és meu filho. És o meu presente de Deus não vou deixar você ser consumido pela ténia preguiça. O mercado da vida está cheio de homens fortes querendo dominar os fracos e não quero que tu sejas um desses. Resista à preguiça e ela fugirá de ti, desaparecerá como uma sombra. Agora tira esse corpo da cama e faz logo o que eu te disse.

– Mãe, o que é o mercado da vida? Perguntou a Daisy, a irmã cassula.

– Sabes, filha, o mercado da vida é o lugar onde todos nós fomos convidados a comparecer e é o espaço físico onde os erros humanos são cometidos. E dentro dele fomos convidados a receber uma missão, ou melhor, a aceitar uma missão e realizá-la perfeitamente. Descobrir qual é a missão é uma tarefa difícil, mas possível, ainda quando oramos e pedimos a Deus a direcção na descoberta da mesma. E assim, quando a descobrimos, temos de exercitá-la cada vez mais e usá-la não só para os nossos benefícios, mas para o benefício de todos, pois Deus nos abençoa com incríveis dons para abençoarmos outras pessoas e não para nos gloriarmos, pois a derrota de qualquer ser não pode, de nenhuma maneira, valer a sua victória.

– E qual é a minha missão, mamãe? – Perguntou Daisy.

– Boa pergunta, filha. É algo que precisas de descobrir por ti mesma e sem ajuda da mamãe. Tu precisas de gostar, precisas de amar para deixar o mundo melhor. O amor é a linguagem da alma, é o espelho da saudade e é a saudade das pessoas apaixonadas pela vida e pela humanidade. Agora vá tomar um banho com seu irmão para irmos à igreja.

– Está bem, mãe – Disse Daisy.

Batinho deu banho à sua irmã, cassula, penteou o seu cabelo e isso fez ela chorar muito. Ainda assim, ele tinha de arrumar sua irmã e garantir que a beleza cobrisse as ruas epiteliais da epiderme da pequena Daisy. Após ter feito isso, e sabendo da hora de ir à Igreja, preocupado, apressou o seu encontro com o chuveiro e o banho. Depois de “asfaltar” seu corpo com shampoo de banho e a água, enxugou-se, pôs o seu terno azul escuro e a sua gravata preta e com o fundo de uma camisa branca. Ao olhar para o espelho, viu reflectido nele um homem que desafiaria o seu mundo interior.

Quem sou eu? Onde estou, e para aonde vou? Sou um pedaço de terra encarnado, o meio de um princípio finito, e o fim de um princípio sem início, sou o agora que se perdeu no antes e o depois que se perderá no agora. Sou um vazio que habita num espaço Babilónico. E não sei aonde vou; na terra talvez, no céu, ou no vazio, qual desses lugares haveria de me oferecer um paraíso e quem pode me garantir um paraíso? Haverá mesmo uma vida após a morte? Eu só quero paz entre os guerreiros da minha alma, paz entre os soldados do meu corpo consumido pela paixão moribunda.

Mas, ainda assim, não importa. Afinal de contas, que lembranças teria um morto? O de ter aproveitado a vida enquanto vivo? Isso também não será uma memória viva. Tudo se perde com o homem que se perde dentro dele. Mas se eu viver o eu com as pessoas ao meu redor, talvez eu reviva mesmo depois que a cortina da vida se feche. Enfim, o cepticismo tomou conta das minhas dúvidas questionadas em relacão a tudo o que havia ao meu redor.

De repente, uma voz, lá ao fundo, a gritar pelo meu nome:

– Batinho, sempre atrasado, o coral já está entrando com a marcha, vê se te apressas logo, seu bobão. Era a Tetinha, uma das minhas irmãs mais-novas.

– Está bem, está bem. Já vou ter convosco.


Batinho apressou-se e pôs-se a caminho da Igreja. E pelo caminho, cumprimentou vizinhos e amigos de rua. Entrou na Igreja e lá estava ele no coral. E quando chegou o momento do evangelho, o pastor com uma Bíblia na mão, olhou para os fiéis e começou a dizer o seguinte:

“A vida é uma jornada isolada. Ela não nos leva a um destino exacto, mas a uma transformação. Mas se olharmos para trás, parece que os nossos melhores momentos vieram no meio de uma ou de muitas situações difíceis. Mas Deus nos convida a vivermos em comunidade e para termos a oportunidade de rir, chorar e comemorar uns com os outros, não importando o que estivermos passando e como estamos passando. A transformação é difícil e nem sempre acontece como imaginamos, mas precisamos de nos lembrar de que, mesmo quando lutamos para confiarmos n’Ele, Ele sempre confiou em nós e é por isso que Ele gera as nossas vidas com amor e propósito se, assim permitirmos. Mas a melhor parte dessa jornada é permitir que o Deus do universo nos deixe fazer uma pequena coisa, não só no plano sagital da nossa vida, mas no plano inteiro dela. Isso não é de mais? Por isso, quem sou eu, onde estou e para aonde vou, são as perguntas que borbulham os pensamentos crítico e solitário do ser que habita num planeta estranho como a terra, e as respostas a essas perguntas, muitas vezes, é o silêncio pintado de preto. E o amor de Deus é a luz da esperança que vai sempre perseguir o espaço do coração do homem, lutando para habitar nele e dar a ele um sentido de vida diferente com cores diferentes iguais as de um arco íris.

O amor de Deus pintará de alegria a sua dor e Felicidade bem como as suas tristezas. Por isso é que ninguém esteve tão longe do Amor de Deus. E aceitar esse amor é responder às três maiores perguntas: Quem é você, donde vens e para aonde vais? E quem gostaria de responder a essas perguntas de uma forma diferente hoje, por favor, levante as mãos”.

As pessoas, tocadas com as palavras do pregador, ergueram as mãos. O pregador era um senhor alto e forte, usava um terno preto, gravata branca e tinha o dom da palavra, sem dúvida, ele era um “cirurgião” de palavras. A maneira como lidava com a comunidade e a forma como restaurava a esperança no coração do homem, era magnífico ver. E, de antemão, se podia ver a clara perseguição ao cumprimento das suas palavras. Ele tinha o respaldo de um verdadeiro cristão e tentava passar isso à comunidade. Olhando de frente ao caminhar de uma música calma, acrescentou: “Vinde a mim todos que estais cansados e sobrecarregados, dar-vos-ei alívio”, diz o nosso Senhor Jesus. E eu vou fazer uma oração ao Pai, para que nos console com a sua presença em nossas vidas e que possamos descobrir a missão que ele nos confiou como seres humanos, e como cristãos.

As palavras do pastor, a princípio, foram uma semente espalhadas em terrenos de composição de rochas diferentes. Finalmente, o culto terminou e Batinho reuniu-se, naquela tarde de domingo, no seu quintal com a família onde os primos, as primas, e as amigas das primas encheram de alegria o espaço do quintal. O Dosversos era Dj e, naquela tarde, foi convidado a juntar as antilhanas e as músicas daquela época de Paulo Flores, Irmãos verdades, Dog Murras (com a sua música “a dança da família”), estimularam os convidados a dar um pé de dança. Havia churrasco, bebidas e boa comida.

– Atenção, atenção família, amigos e convidados de casa. – Disse o pai de Batinho e acrescentou. – Eu quero agradecer a presença de cada um de vós nesse claustro anfitrião e não imaginais o quanto encheis de alegria o meu coração. Obrigado a todos. A Deus, por esse momento inalienável, porque há vinte anos, ele introduziu na minha vida a companheira mais fiel de todos os tempos, a mulher que há vinte anos olhou bem nos meus olhos e disse: “Rafael, eu aceito o desafio de ser a sua namorada, sua esposa, mãe dos seus filhos, fiel e eterna companheira”. Ela teve fé e confiança ao decidir amar-me e hoje quero que vós a conheçais. Minhas senhoras e meus senhores, convosco, Esmeralda Rosa Rafael. Os convidados vibraram com aplausos à declaração e ouviram, atentamente, a sequência do discurso.

– Esmeralda. – Disse o Sr. Rafael e acresceu: – no palco dos meus pensamentos, nas passarelas do meu coração, você ganhou o título da mulher mais linda do universo. E hoje, na presença de Deus, dos nossos filhos, familiares e amigos, eu quero renovar os meus votos e dizer que durante os vinte e cinco anos ao seu lado eu tornei-me no homem mais feliz. Todos os homens são felizes ao lado das suas esposas e isso eu não nego. Mas eu ao seu lado, sou ainda mais feliz. Porque você me trouxe segurança quando eu me senti inseguro, me trouxe paz, quando me senti em guerra comigo mesmo, me trouxe amor e isso fez a minha alma feliz. Se o tempo voltasse atrás, saiba que eu a escolheria novamente mulher, para ser a minha feliz e eterna esposa. Obrigado por esses anos de companheirismo, amizade e amor!

As pessoas, emocionadas, aplaudiram a homenagem que Rafael, pai de Batinho, fez a Esmeralda, sua mãe. E Batinho ficou comovido ao ver seu pai a declarar amor pela sua mãe e ficou durante a festa imaginando como seria a sua atitude quando visse a Carla. E no meio da festa, a Vanda procurou por Batinho.

– Seu pai é um romântico. – Disse a Vanda, com entusiasmo, ao Batinho.

– Pois é, Vanda. Os meus pais amam-se e eu poço ver isso todos os dias; eles cuidam um do outro e não imaginas como. Até parecem adolescentes. Eu gostaria de amar assim uma mulher tal, como o meu pai ama a minha mãe.

– Sua mãe teve a sorte de encontrar um homem carinhoso como seu pai. Ela é uma sortuda, porque não se acham homens assim por todo lado. – Disse ela.

– Uma das coisas importantes que meu pai me ensina, com exemplos, todos os dias, é o Amor a Deus. Porque quando amamos a Deus, nós confiamos, e no exercício da confiança, nesse Deus, está a fé que pressupõe uma clara certeza de que alguma coisa vai acontecer. E no momento em que nós amarmos a Deus, encontramos o verdadeiro amor, e esse amor vai nos apresentar numa outra pessoa, uma Eva ou um Adão, onde o nosso único objectivo é amar, cuidar, proteger essa pessoa com amor que, na verdade, é o reflexo de um sentimento original que recebemos de Cristo. O nosso relacionamento com Deus é directamente proporcional ao relacionamento que mantemos com as pessoas ao nosso redor. E ao expandirmos esse sentimento para outra pessoa, nós as amaremos, não só por um mero e acaso sentimento, mas porque o nosso amor por Deus é tão forte que tudo o que fizermos por ele ou ela, entenderemos que é para Deus que o estamos fazendo e que a nossa missão é amar incondicionalmente. Na fidelidade estaremos honrando não somente a Deus como também ao nosso parceiro. E se o magoarmos, estaremos magoando não somente o coração de Deus mas também o dele, minha querida amiga Vanda. Por isso, digo-te que o homem e a mulher que decidirem convidar a Deus no seu relacionamento e na vida singular, os desastres não serão assim tão desastrosos, ou melhor, não haveria como alguém machucar o outro, porque ambos perceberiam que ao magoar o outro estariam a magoar a Deus. Isso não é uma questão de perfeccionismo, mas sim uma questão de fé e confiança, pois o verdadeiro amor lança fora o medo.

– Batinho, será que tu estás a amar alguém?

Bem, eu queria dizer isso mais tarde, mas já que perguntaste, a resposta para a tua pergunta é sim. Vanda, estou sim a amar alguém e imaginas o quanto a amo. Como naqueles filmes de romance, sabes…

– Bobão! Preste atenção. – Disse ela. Fala com ela logo.

Porque guardar esse sentimento puro?

– Vanda!

– Diga.

– Quero fazer-te uma pergunta. Como mulher responde-me a uma coisa. Qual seria a tua reacção, se um amigo teu confessasse estar apaixonado por ti?

– Na boa, Batinho. Eu agiria, normalmente. Avaliaria os meus sentimentos e em conformidade com os dele, pensaria na possibilidade de estarmos juntos. Isso se eu percebesse de que ele está realmente afim de mim. Mas Porque a pergunta? Diga-me tu, porque essa avaliação toda?

– Porque é complicado namorar um amigo e na maioria das vezes dá sempre errado. Mas me conta quem é a sortuda dessa amiga?

Enquanto eles falavam, o telefone chamou e interrompeu a conversa deles.

– Olha, Batinho, depois te ligo para falarmos à vontade ou mesmo amanhã passa, por favor, pela minha casa, para um café.

– Ok! Na boa. Vai ser ótimo – Disse o Batinho.

Por outro lado, a festa estava sendo aplaudida com música e dança. A noite reinou o céu e o tempo catalisou os momentos naquele convívio. As pessoas desalojaram o quintal, Batinho e Tino, também tratado por Tibox, juntos com o Dosversos, Putsom, Mussungo e o Marquitos saíram às vinte e três horas da noite em direcção a uma casa noturna. O lugar era chamado de Trinital, que ficava no bairro de São João, junto a ex-praça da Canata, e a uma hora de distância das suas moradias. Ali, era o encontro de todos os grupos dos diferentes bairros e todo o cuidado era pouco para Batinho e seus amigos. Evitar o álcool era ainda mais importante para impedir que alguém provocasse o outro. As pessoas dançavam, bebiam e fumavam naquele lugar. Havia muita gente fora quando, de repente, o inesperado aconteceu.

– Estás-me a encarar, porque seu mulato sujo. – Gritou um estranho.

– Eu? Estás doido? Maluco.

– Tu chamaste-me de quê?

– Maluco. É chamei-te de maluco, sim. Que parte do mundo em que olhar para alguém constitui crime?

– Eu vou chover-te de pancadas. – Disse o estranho.

– Quer encarar, venha! – Disse o Marquitos.

– Marquitos, meu, evita esse mambo, brother, sai dessa, avilo. – Disse o Batinho.

Porém, Tino olhando para a calamidade da situação, disse: “é o seguinte, pessoal, estamos aqui na banda alheia e se enchermos de pancadaria alguém, teremos de fugir e se não quisermos, temos de evitar brigas e eu, olha eu conheço esse tipo. É o Juzi, amigo do Caico, eles vivem na rua da malhação, lá onde vive o Morto. Eles são uma ameaça para todos os grupos aqui e por isso ninguém pode encará-los.

– Eu não tenho medo dele. – Disse o Marquitos.

E enquanto eles falavam, o Morto chegou e partiu uma ngala na cabeça de Marquitos e logo depois perguntou:


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