Текст книги "Um Julgamento de Contos de Fadas a Colarinho Branco"
Автор книги: Marcos Sassungo
Жанр: Современная зарубежная литература, Современная проза
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– Afor tior. – Respondeu o Tino.
– Vamos à cantina?
– Estou sem dinheiro, a não ser que me pagues uma sandes hoje.
– Está bem, eu pago. “Ars Longa Vita Brevis”. – Disse o Marcos ao Tino.
Ao descerem as escadas, Marcos avistou a Santa e disse:
– Tino, olha quem está na cantina.
– A sério?! Eu não vou. Vamos mais tarde. Respondeu o Tino com um ar medonho.
– Fica calmo, seu medroso, seja homem.
– Está tudo bem.
Naquele dia, apesar de todos os planos de tentativa de poder se aproximar e declarar-se, Tino não conseguiu. A timidez abraçou-o e não conseguiu sequer falar com ela e o dia foi passando e passando, e já era meio-dia, hora de sair da escola para a casa.
A cobardia é o inimigo da coragem quando a felicidade nos convida a passar pela ponte da dor. E naquele dia, mais uma vez o Tino não conseguiu falar com ela. Triste e interiormente solitário sentiu-se réu das suas próprias dúvidas e condenado pela sua própria consciência e pelo seu próprio medo; eu sou um fracasso dizia ele. E desesperado dizia; eu sou um aaaa obviamente eu não sei quem eu sou.
Por conseguinte, e já de saída da escola, o telefone chama.
– Aló, mestre.
– Sim, Tino, onde estás?
– Estou a descer a rua da Sé Catedral em direcção à oficina.
– Estamos a tua espera porque há aqui um cliente. De momento, vou ausentar-me, mas assim que chegares, dê um jeitinho.
– Está bem, mestre.
Os dias eram difíceis e Tino além de estudante, era mecânico de geradores domésticos, numa oficina no bairro do São João popular. Na verdade, todos os seus amigos eram mecânicos e trabalhavam juntos, com excepção de Marquitos que embora também o fosse, a oficina onde trabalhava era diferente. Todos os dias ao meio-dia, era uma obrigação Tino aparecer na oficina para reparar geradores. O tipo era um médico de geradores.
– Boa tarde, colegas.
– Boa tarde, Tibox. Respondeu o Vavá, um dos seus colegas e acrescentou:
– O Sr. Miguel está cá a reclamar da prontidão do seu gerador e nós dissemos que apenas você autorizaria a saída do gerador pelo facto de o ter reparado. E isso se está mesmo reparado. E o mestre saiu. Foi ver uma obra e disse para tomar as devidas decisões de negócio com o Sr.Miguel.
– Está bem, Vavá.
– Então, Sr. Miguel, boa tarde.
– Boa tarde, Tibox.
– Sr. Miguel, o seu gerador está pronto, fiz as devidas alterações. Inicialmente pelo estator e o induzido queimado, trocámos por outro. Trocámos a anilha do carburador, o condensador também queimou e troquei-o por outro.
– Está bem, está bem…só me diga quanto eu devo pagar e prontos. Disse o Sr. Miguel.
– Seis mil Kwanzas pelas peças substituídas e mil e quinhentos pela mão-de-obra. Ao total sete mil e quinhentos.
– Está bem, aqui tens. E posso levá-lo, agora?
– Pode, sim, à vontade, senhor.
– Está bem. Obrigado pelo serviço.
– Nada por isso, Sr. Miguel e volte sempre.
Era um dia de sol, naquela tarde de segund. – feira, e no trabalho do Sr. Américo as coisas iam calmamente.
– Chefe, como foi o almoço? Perguntou o Sr. Américo, pai do Tino ao Sr. Rafael, pai de Batinho.
– Foi óptimo, o almoço… a Petisco Gigi hoje ofereceu um prato novo à disposição dos seus clientes. É uma comida portuguesa, um tal framboesa… E advinha quem esteve hoje como convidado no restaurante a cantar.
– Bessa Teixeira? Perguntou o Sr. Américo.
– Não. Ela nasceu cá, mas vive na capital. Suas músicas têm sido um referencial angolano… vai lá, tu consegues Américo.
– Hammm, ok, Pérola?
– Positivo. Ela esteve deslumbrante hoje. Música ao vivo, comida boa e saúde boa e devias ter ido, certamente não te arrependerias. Isso eu posso assegurar-lhe.
– Está bem, chefe. Talvez eu vá amanhã ou hoje à noite para apreciar a música por lá. E o que o senhor fará nesse final de semana?
– Bem, até então não há nada marcado. – Respondeu o Sr. Rafael.
– Bem, eu vou à pesca nesse final de semana e desta vez será num lugar especial e os meus amigos dizem que é um óptimo lugar para passar o tempo e além do mais há lá muito peixe… O Senhor não gostaria de me acompanhar? O primeiro e o último peixe eu garanto que será para o chefe.
– A sério? Eu fiquei de comprar um novo anzol, nesta sexta-feira. Estou dentro. Neste sábado, pela manhã, estarei em sua casa.
– Não se preocupe, Senhor, eu mesmo virei com o jipe e faremos a viagem ao Quando.
– Está bem, eu vou falar a respeito disto à minha esposa e ainda falaremos deste assunto durante a semana.
– Está bem, Chefe. Disse o Sr. Américo e acresceu:
“continuação de bom trabalho”.
– Obrigado e igualmente. Respondeu o Sr. Rafael. O sol transfundiu o seu brilho para a luz lunar. Era já tarde naquele dia de segunda-feira. As ruas estavam ainda cheias das pisadas da multidão. Na Rua Nova, tudo estava tão calmo quando, de repente, um morador respondeu ao silêncio perturbador com música alta ao som de uma trombeta. E por outro lado, os amigos chegaram ao Batinho para o convidar a sair.
– Batinho, vamos rotinar na Rua Nova.
– Agora não posso. Disse o Batinho e acresceu: “ tenho de esperar que os meus pais durmam, só assim é que vou dar um jeito de sair de casa, porque eu tive uma conversa séria com o meu pai.
– Mas até lá será tarde brother. Estás cheiíssimo de medo, igual a um rato… não há gato lá fora, sabias? Nós somos os gatos das ruas e não é salutar comportares-te como alguém diferente.
– Eu sei, meu, mas eu tenho de respeitar os meus pais e deixar eles dormirem… Cara, já são quase vinte horas e eles dormem pouco antes das vinte e uma e meia, eu estarei convosco. Vão em frente e cuidem das ruas.
– Está bem – Respondeu o Marquitos.
– Tino, vamos bazar. Ele precisa de trocar de fraudas, ainda.
Todos se riram da insinuação irónica de Marquitos.
– Depois então, encontre-nos no local. Disse o Dosversos.
– Está bem, lá estarei.
– Batinho, Batinho… mamãe quer você em casa, agora – disse a pequena Daisy.
– Wi, tenho de atender uma chamada. Ate já! Bazei.
– Não há makas. Respondeu o Mussungo.
Enfim, o jantar estava pronto e a família estava reunida a mesa; Deus te agradecemos pela família e pela refeição, amém.
– Amém. Responderam todos, unanimemente.
– Como foi seu primeiro dia, Daisy. Perguntou o Sr. Rafael.
– O meu primeiro dia foi bom, pai, a professora é simpática.
– E como ela se chama? Perguntou a Tetinha.
– Maria… professora Maria.
– Ela foi minha professora na segunda classe. Precisas de estudar bastante, ela é exigente. – Disse o Batinho.
– Isso é bom. – Disse o Sr. Rafael e acresceu: “uma educação exigente produz profissionais aptos para a ciência, mas não para vida. A escola nos ensina a enfrentar problemas da ciência, mas não nos ensina a enfrentar os problemas da alma, por isso, nunca deixem de aprender com a vida, aquilo que as escolas não podem sequer ensinar.
– Permita-te sempre, filha, a aprender e a engatinhar na vida. – Disse a dona Esmeralda.
– Mas, mãe, ela ainda é pequena e não entende nada da vida. – Disse a Tetinha.
– Mãe o quê que a vida ensina que a escola não ensina? – Perguntou a pequena Daisy.
– Já vês, mãe? Ela já começou a fazer perguntinhas. – Disse a Tetinha.
– Amor, ainda complicas a menina a estas horas do jantar?! Disse o Sr. Rafael.
– Filha, coma, que a mamãe te explica depois. E tu, Batinho, como foi o teu dia?
– Foi bom e como diz o brasileiro. Foi maneiro. Escola nova, professores novos, colegas novos e o melhor de tudo é que os professores são excelentes.
– Que bom ver este entusiasmo, pois este é o seu último ano. Dê o melhor de ti. Disse o Sr. Rafael.
– Eu vou descansar, amor, vens comigo?
– Sim, amor, eu vou já, mas me deixe arrumar a cama da Daisy. Tetinha lava a louça com a ajuda do teu irmão.
– Está bem, mãe.
– Feliz noite, Cassule.
– Feliz noite, mãe.
Quando a Sra. Esmeralda e o Sr. Rafael saíram da sala de jantar, o Batinho propôs um trato com a Tetinha, a sua irmã menor.
– Tetinha, preciso de falar contido, vamos fechar um negócio.
– A sério? Maninho o que vai ser desta vez em troca?
– Irmã, dá um jeito, amanhã te trago uma coisa…
– Eu quero chocolates.
– Está bem, querida eu amanhã comprarei muitos para ti. Deixe o portão aberto por mim, ok?
– Está bem, maninho. Cuida-te.
– Obrigado, maninha.
E Batinho saiu de casa, naquela noite, em busca da catarse na diversão nocturna.
As ruas convidaram-me a visitar as trilhas daquele bairro de cinza e ansioso para me encontrar com os meus amigos. Saí apressadamente. Nunca tive um dia tão desafiador como aquele; fui desafiado a enfrentar a noite, as suas doações e com ela recebi novos amigos, que me darão novos sorrisos e novas tristezas. Não se pode julgar um livro pela capa, dizem poetas e escritores e não se pode julgar uma pessoa sem que antes a conheçamos, pois as pessoas podem ter sabor de um romance quanto a de um drama. Mas, enfim, terminou o dia e vou-me alistar aos meus amigos e trazer de volta à alegria o arc. – íris da felicidade promissora.
– Batinho, boa noite.
– Boa noite, Flávio, como estás?
– Estou bem, obrigado. Por essas horas, aonde vais, agora tão tarde?
– Eu vou ao encontro do Mussungo, Putsom, sabes, a minha staff.
– Ummm, eu sei, sim, Batinho. Vi-os na Rua Nova, estão a dançar e a divertir-se com a galera.
– A sério?! É para lá que vou.
– Boa sorte, disse o Flávio. E acrescentou: “a vida é um romance eterno e a eternidade não pode apagar a Felicidade que só o ser humano pode experimentar”. Tu acreditas no destino?
– Destino é uma clara ideia sem fundamentos de que exista uma certa história predestinada a cada ser humano. Eu não acredito no destino, mas acredito que as pessoas podem escolher o melhor que eles poderem, ou melhor, tu escreves o destino e não o contrário, pois o homem é dono da acção e do poder, mas nunca da vida. Eu acredito que existe, no ser humano, uma força inigualável e própria, a fim de enfrentar qualquer desafio e suplantá-lo. Eu sou livre dentro de uma liberdade limitada, mas responsável pelas minhas escolhas desde que as mesmas sejam inofensivas a outros. – Respondeu o Batinho.
– Eu concordo e acredito que ao escolheres esse caminho hoje, foi resultado de um julgamento consciente e tudo o que hoje farás será resultado das tuas escolhas… Divirta-te, mas te cuides, cara.
– Obrigado, Flávio, eu vou nesse sábado à tarde a tua casa.
– Está bem, estarei te esperando. Vai com Deus.
– Obrigado, mais uma vez. Respondeu Batinho.
As ruas estavam quietas e felizes, naquele dia e, finalmente, cheguei.
– Oi, Batinho, como estás?
– Tudo bem, Lulúe, tu como estás?
– Na boa. Vamos dançar?
– Rsrsrs, a sério?! Lulú, não sei dançar.
– Pelo menos experimenta.
– Está bem. Respondeu o Batinho.
Eles dançaram naquela noite. Foi a primeira vez que Batinho ousou a dançar com a Lulú, uma das suas amigas.
– Batinho, eu quero dizer-te algo, mas não pode ser aqui, neste lugar, podes vir comigo, por favor?
– Claro! O que você tem para me dizer, Lulú?
A noite estava tão deslumbrante e a música tarrachinha convidou vários pares a trocarem um pé de dança e a revelar as manifestações dos seus hormônios. A Lulú convidou Batinho e ambos foram a um lugar mais calmo e menos agitado e, de repente, ela beijou-o tão apaixonadamente.
– Lulú… Disse o Batinho.
– Não digas nada, agora eu só quero beijar-te. Disse a Lulú.
– Mas assim do nada? Não faças isso novamente. Tu sabes que o Mussungo gosta muito de ti, ele é meu melhor amigo e não faças isso comigo… Além do mais, eu não sinto nada por ti sabes…
– Batinho, faz tempo que eu carrego este sentimento e não consigo conter-me, todas as vezes que te vejo, e hoje, depois de termos dançado, eu percebi que tu és o homem perfeito para mim e tive de ganhar coragem e dizer o que sinto.
– Lulú, eu respeito a tua decisão em falar comigo. Mas, querida, eu não posso fazer isto.
– Mas, Batinho, eu não gosto do Mussungo. Eu sei que ele diz que me ama, mas eu não consigo vê-lo de outra maneira.
– Vamos fazer o seguinte. Disse o Batinho. Dê uma oportunidade a ele. Ele te ama, Lulú, e asseguro-te que ele tem sido um óptimo amigo e provavelmente será um óptimo namorado. Vai-te amar e respeitar.
– Não, Batinho, eu não quero outro homem excepto tu. Por favor, querido, aceita.
– Não. Não, posso.
A Lulú saiu chorando apressadamente.
– Batinho, estás bem? Perguntou o Tino.
– Wei, a Lulú, meu… Ela saiu a chorar.
– Mas, porquê?
– Ela diz que me ama e a princípio nós os dois sabemos que o Mussungo gosta dela e além do mais estou apaixonado pela Carla.
– Uaooo, que situação! Meu, não sei o que te dizer mas não fales ao Mussungo a respeito, isso é coisa leve de resolver.
– Está bem. E aí como foi hoje lá na escola, viste a Santa? Perguntou o Batinho.
– Cara, eu vi a Santa, mas não pude fazer nada. Nada mesmo. O Marcos me encorajou inclusive, mas não consegui. Eu sou um perdedor.
– Não digas isso…Tu consegues. Pensa positivo. Eu hoje falei com a Carla e…
– O que ela disse, meu? Conta-me, estou ansioso.
– Já estávamos a sair da escola, quando interpelei ela pelo caminho, e convidei-a para um jantar nesse sábado à tarde. – Disse Batinho.
– Nada mal do seu lado.
Enquanto eles conversavam, Mussungo apareceu no meio da conversa.
– Pessoal, vamos aproveitar a noite. Há dança e muita garota neste quintal.
– Vamos embora daqu. – Disse o Tino ao Batinho.
E aí, todos se juntaram à festa da dança, naquela noite. A diversão é boa. Ela faz-nos esquecer um momento triste da vida. Ela traz alegria e um sentimento de felicidade. E enquanto eles dançavam alegremente, um outro bolão "grupo" chegou também a fim de se juntar ao boda. Era o grupo do bairro Quilombo. A fama desse bolão era conhecida pelo uso de armas brancas. Havia nesse grupo homens grandes e de aparência assustadora e ao invadirem desrespeitosamente a festa naquela noite, o Dosversos, o ousado do grupo, reagiu à atitude negativa. A música parou, as pessoas correram abandonando o lugar, ficando apenas o dono da festa, Batinho, Tino, Mussungo, Putsom e outros. A confusão foi restaurada no meio da rua. Mussungo invadiu a cara do mais valente com a palma da sua mão na região temporomandibular e a força aplicada foi tão potencial que convidou o oponente ao chão.
Houve uma tremenda confusão entre eles; todos do bolão do bairro Quilombo, ao verem o que havia acontecido, correram.
– O que eles pensam que são? – Perguntou o Nyga. Eles acham que podem vir aqui assim do nada e tentar tomar o espaço que nos pertence!?
– Não podemos tolerar essa asneira. Aqui mandamos nós e mais ninguém. – Disse o Mussungo.
Naquele momento, o enredo dividiu opiniões entre eles e depois deste acontecimento, todos foram embora daquele lugar, pois já era tarde demais para estar nos tumultos das ruas. Despediram-se e todos foram para os seus aposentos.
No dia de sábado, pela manhã, o pai do Tino, o Sr. Américo, encostou o jipe do outro lado da rua, em busca do meu pai que naquele momento estava pronto para fuzilar os peixes com o seu novo anzol. E eu, bem eu tinha um encontro com o Flávio e mais tarde com a Carla. E depois de ter ajudado a minha mãe com os serviços domésticos, e meu pai ter ido embora com o pai do Tino, visitei a casa da minha avó, que ficava junto da Igreja. Minha avó era uma mulher que não se cansava de trabalhar, apesar de a idade lhe pedir um descanso. Alegre, simpática e com um coração repleto de sabedoria acumulada durante os oitenta e oito anos ela falava-me da época em que o meu país ainda era uma colônia portuguesa, falava-me dos seus pais, da época do seu namoro, casamento e contava-me como foi o crescimento da minha querida mãe. Como empregada de um casal português, ela era a responsável por cuidar de tudo para os patrões; eu cuidava de tudo. E eles eram bons comigo e chamavam-me por dona Mariana. Sempre que o Fábio, seu tio, chegasse da escola, ele brincava com a sua mãe no balouço. E os patrões ofereciam a ela os brinquedos daquela época.
– Avó, como foi que a senhora conheceu o avô, seu marido? – Perguntou Batinho.
– Foi uma época maravilhosa. Tudo estava indo muito bem, na altura, quando conheci o seu avô. Ele é filho de um citadino português que, naquela altura, tinha uma das lojas na baixa desta cidade do Huambo. Ele pediu-me em namoro, porque o meu pai era amigo do pai dele também e eles conversaram e concluíram que eu poderia casar com ele. Eu não amava seu avô no princípio, porque eu amava outra pessoa, mas por orientação dos meus pais na época tive de aceitar o facto e adaptar-me à realidade. Meu filho! O amor é uma escolha. Desde o momento em que você escolhe amar alguém, as coisas acontecem de uma forma maravilhosa, porque o amor é uma magia, o amor é um milagre. Aprendi a amar o seu avô, porque escolhi amá-lo.
– Como isso pode ser possível? – Perguntou.
– Bem, todas as vezes que disseres a uma mulher que eu te amo, tenha a certeza de que essa afirmação resulta, não somente a partir dos teus sentimentos, como também da tua volição, da tua vontade consciente. Porque o amor é um labirinto sem voltas, é uma porta aberta para perdas e frustrações e nunca é retilíneo. Tu sentes que amas alguém naquele momento, mas, no outro, tu percebes de que ela não é a pessoa certa, inclusive sentes vontade de sair da relação. E o dia em que por alguma discussão disseres à pessoa amada que já não a amas, estarás a destruir uma história de amor, uma vida e um mundo. E isso vai, naturalmente, te transformar numa pessoa mentirosa, porque do amor não se desiste, do amor não se cansa, mas do ódio sim. O amor, ao contrário do ódio, ultrapassa qualquer obstáculo. O amor é uma reacção química irreversível. Se Deus decidisse não mais nos amor, o que seria da humanidade pecadora? O ódio sim, é um labirinto que tem volta, mas o amor não tem volta. Tu podes decidir não mais odiar alguém. O ódio é um sentimento nocivo que corrói aos poucos, o coração da alma. Ninguém sai ileso desse sentimento, quando se é apegado a ele. Ele ao contrário de destruir a pessoa em causa, envenena o seu coração e carácter. Mas a oração pela pessoa em causa leva-nos ao amor. Contudo, eu e seu avô casamos pela Igreja, na paróquia do São João. Hoje, amo-o, porque eu aprendi e escolhi amá-lo.
– Que história fantástica, avô. Os meus parabéns. – Disse Batinho.
– Não é uma tarefa fácil, mas quando nós fazemos as coisas para Deus, a alegria é maior. E tu precisas amar as pessoas e amá-las com o coração aprovado pela mente. Não importa quem seja ou como ele seja. O amor é o milagre da vida, o amor é a linguagem universal que não perde a idade.
– Obrigado, avó. Respondeu Batinho.
– Eu preparei o pequeno-almoço. Não gostaria de experimentar? Vai, coma um pouquinho.
– Obrigado, avó, vou comer, sim.
Enquanto eu comia, ela continuava a falar calmamente.
–É isso aí, meu neto, coma, coma… E lembre-se, o homem tem de ter, sempre, um ofício. Alguma coisa que o ajude em momentos difíceis. No tempo em que a guerra decidiu visitar a nossa cidade, homens de escritórios passaram fome e era simplesmente terrível, porque eles não sabiam mover uma enxada e isso foi muito difícil para muitos, pois não havia comida em armazéns por causa da guerra. Mas tu hoje tens a oportunidade de seres o que quiseres e tudo o que quiseres, meu filho, tu podes. Nunca tenhas medo de enfrentar os obstáculos da vida, nunca tenhas medo de escalar as maiores montanhas da tua vida. És o milagre que tu mesmo precisas. Em teu ser está a capacidade única e inalienável. Nunca diga: eu não consigo fazer tal coisa. Tente, tente de novo e de novo e mais uma vez e outra vez até alcançares, mas nunca te aches superior a ninguém. Compare-te a ti mesmo e nunca com outra pessoa. Compita contigo mesmo. Porque todos nós fomos chamados nesta casa universal para herdamos capacidades e talentos que precisamos treinar. Se amares o que fizeres, ninguém te impedirá de alcançar o que queres.
– Obrigado, avó.
– Coma, meu netinho, coma. Mas nunca brinques com os sentimentos de uma mulher. A fuga a paternidade, a gravidez indesejada, o aborto provocado, são alguns dos problemas sociais que colocam a mulher como uma vítima. Se fores homem o suficiente para teres uma namorada, sê homem o suficiente para assumir as tuas responsabilidades. Sê homem para cuidar, amar e respeitar a tua mulher, não formes um lar, não construas a tua casa sem antes teres a certeza de que podes sustentá-la.
Não é mal ser alimentado por uma mulher, mas reza a lenda que, a primeira vez que o homem permitiu ser alimentado por uma mulher, ambos foram expulsos do Éden. Por isso, é responsabilidade do homem, é responsabilidade tua cuidar da tua mulher. Ouviste?
– Falou profundo a avó.
Ouvi, sim, minha querida… Avó eu amo-te, mas a avó fala de mais e bonito… Mas agora eu vou ter com o Flávio.
– Agora vai ter com o Flávio e manda os meus cumprimentos, antes que eu fale mais ainda.
– Está bem, avó, farei entregue e obrigado pelos seus conselhos.
Despedi-me da minha avó e pus-me a caminho. Comigo a intolerância da imaginação dos provérbios da minha avó e a profunda reflexão do hoje e do agora face a essa homotatosglobalidade. Quem eu sou e para aonde eu vou? Quem serei eu dentro do teatro da vida? Qual seria a minha missão no mundo? O que eu vim fazer aqui nesse planeta? Quem é Deus para mim?
Enquanto reflectia em tudo o que ocorria interiormente, exteriormente mostrava um rosto de quem está despreocupado com o tudo do nada.
Ao chegar junto do portão, pedi licença.
– Quem é?
– Sou eu, Batinho.
– Já vai.
– Olá, bom dia, queria saber de se o Flávio está em casa.
– Não está, mas podes entrar, ele volta já. Respondeu a Xeila, a irmã de Flávio.
– Está bem.
Entrei, cumprimentei os que encontrei e fui convidado a sentar-me ao lado do Pr. Gueide, o Pastor da minha Igreja.
– Sr. Batinho, chega mais para cá. Já comeste alguma coisa?
– Já sim, pastor, mas vai uma quissangua, respondi.
– Ontem estive com o Pr.Terry no São José e falo. – me de ti. – Disse o Pr. e crescentou: na escola da vida o homem procura, de várias maneiras, responder a maior pergunta do seu ser. Onde estou, de onde venho e para aonde vou. Eu sou o primeiro filho e comecei a trabalhar desde cedo e com catorze anos eu engraxava sapatos na cidade, no tempo colonial. Estive sempre nas ruas da cidade e tive sempre os meus clientes. Uma das estratégias de manter os meus clientes era, além de engraxar, vender jornais para eles todos os dias, pela manhã. Um dia desses, um senhor português convidou-me a trabalhar numa fábrica de chouriço. Aí os tempos já eram bem melhores, porque eu já era bom de contas. Comprei a minha primeira bicicleta, e já era responsável por pagar os meus estudos. Mas a uma dada altura, eu tinha que ingressar na tropa e quando regressei, retomei a minha posição na loja. E eu hoje estaria em Portugal com os meus patrões.
– O que aconteceu? – Perguntou Batinho.
– Naquela época, a guerra invadiu a cidade e eles convidaram-me a ir com eles, mas neguei. Logo me deixaram as chaves das lojas e da casa. Vivi naquela casa uma semana e depois tive de mudar de lugar. Bem, os tempos passaram e comecei a trabalhar novamente. O homem escolhe os seus caminhos e por eles é responsável e eu escolhi os meus e por eles fui responsável pelas consequências, quer fossem boas ou más. O maior milagre na vida do ser humano é o facto de ele ter nascido. Não há desculpas para o sucesso. O indivíduo escolhe o sucesso das decisões e as decisões do sucesso. A priori, ele decide o sucesso na mente e logo depois o executa. O ser humano é dotado de talentos e dons incríveis, e não desistir deles é a maior decisão que ele pode tomar. Por isso, meu filho, nunca desistas dos teus sonhos. Lute sempre que poder e mesmo que não poder, tente, pois, se David não tentasse, talvez o gigante Golias teria açoitado Israel o tempo todo até que houvesse alguém que tivesse coragem de o enfrentar. Sê David e vence os Golias da tua vida e dá o melhor de ti naquilo que poderes fazer. Dá o melhor de ti naquilo que tu sabes melhor. O mundo vai reclamar, vai pedir explicações e vai tentar fazer com que desistas. Sê forte. As pessoas aplaudem o nosso sucesso, mas julgam o nosso insucesso e tu tens de ser forte e valente. Nunca te aches melhor do que ninguém. Tu não és o único e diante da morte os nossos talentos, títulos, o nosso status cala-se e decompõe-se sem volta, igual a um papel atirado ao lume. Sê tu mesmo, sê natural. Respeita as pessoas, ama-as independentemente de quem elas representam ser para ti. O ódio só atrai desgraça, ao contrário do amor que embeleza o seu ser e enche de felicidade o seu corpo. Escolhe amar. Escolhe viver. Escolhe o milagre…. Olha que o seu amigo Flávio acabou de chegar.
– Bom dia, Batinho, como estás? Vamos ao quarto.
– Pastor, com a licença. Desde já agradeço pela conversa, foi bom ter estado com o Senhor. – Disse Batinho.
– Está bem, meu filho. Vai ter com teu amigo.
– Obrigado.
– Então, donde vens, agora? Perguntou Batinho ao Flávio.
– Eu venho dos ensaios na Igreja e olha que tu também devias participar. Seria bom.
– É. Seria bom, mas ainda quero entender o Deus que vou seguir. Eu preciso entendê-Lo.
– O que te falta para entenderes? Deus é o ser majestoso. O princípio do início, o alfa, o começo do amor.
– Eu sei… Não é disso que eu quero dizer.
– O que queres entender? – Perguntou o Flávio.
– Eu quero entender a minha identidade. Existem coisas na minha vida as quais eu não entendo.
– Como o quê, por exemplo? Perguntou o Flávio.
– Como posso entender a morte de uma mãe que dá a luz a um bebê durante o parto? Como posso entender o genocídio no Uganda, como posso entender a fome na Somália? Como posso entender a rivalidade entre dois irmãos, ambos filhos de um mesmo pai e mãe? E saber que existe um Deus lá no céu a cuidar de nós? Como posso entender esse cuidado? O amor é um desastre de sentimentos ao contrário daquilo que minha avó me transmitiu hoje.
O Flávio, fitou o olhar delongadamente ao Batinho e suspirou dizendo:
– Eu entendo. Eu faria as mesmas perguntas no teu lugar. Eu gritaria forte reclamando da existência de um Deus ausente na vida da maioria e supostamente presente na vida de muitos. Mas vamos levantar a hipótese: Vamos levantar a hipótese de que eu e tu estivéssemos aqui nessa casa universal como resultado de um desejo e vontade de um Deus. O que será que Ele pediria de nós como retorno da sua boa misericórdia, em permitir que nós sobrevivéssemos até hoje em meio de milhares que já se foram?
Entender o genocídio, as doenças, mortes prematuras, a fome e inclusive o estupro, é tentar entender o vazio da lógica. Comportamentos humanos bons ou maus não podem ser motivos para julgar o amor de Deus, a humanidade, como se Ele cometesse um crime de colarinho branco. É escusado culpar Deus pelos crimes humanos, pois o homem é o centro das decisões lógicas e ilógicas até hoje cometidas. Deus não pode interferir nas decisões humanas, caso contrário, ele não seria Deus. O ser humano é essencialmente ético e moral para reagir aos problemas psicológicos, sociais, político-económicos de uma maneira a gerir saudavelmente as suas acções. No entanto, há sim um Deus que embora não interfira nas nossas decisões, Ele se apresenta para corrigir, convencer e salvar o homem.
– Mas ainda assim eu gostaria de entender. Respondeu o Batinho.
– Um dia amigo, poderás entendê-lo.
– Eu vou andando, gostaria de poder ficar ainda mais e conversar contigo, mas, agora, estarei me preparando para um jantar hoje com a Carla.
– A sério?! Quem é a Carla?
–É uma colega minha, vive na cidade alta.
– Meus parabéns pelo amor, amigão.
– Boa sorte para hoje e gostarei de saber como te sairás neste encontro.
– Rsrsrsr, está bem. Obrigado.
Batinho despediu-se do Flávio, seu amigo e do pastor. Enquanto isso, o Sr. Américo e o Sr. Rafael estavam no rio digerindo o tempo pausadamente com os seus anzóis ao som de uma música que acompanhava suas conversas sobre a vida, família, dinheiro e Amor. O Sr. Américo ofereceu o primeiro peixe tal como prometera e ambos levaram de volta a casa uma cesta cheia peixes. Por outro lado, Batinho estava preocupado com o seu encontro. Foi assim que ao dirigir-se ao restaurante, assegurou-se de que tudo haveria de estar dentro das suas expectativas. Pelo que, encontrou o seu amigo que atendia num restaurante português.
– Bom dia, Romeu.
– Bom dia, Batinho. Em que te posso ajudar?
– Foi uma sorte ter-te encontrado. Escolhi esse lugar para um encontro meio romântico com uma colega minha.
– Este é o lugar certo para idealizarmos o momento. Disse o Romeu e acresceu, temos disponível esse lugar. E mais lá para acima, há um outro lugar mais aconchegado e com um ambiente exclusivo. Vem comigo, que eu lhe mostro.
[Os dois subiram as escadas].
– Uaoooo! Esse lugar! Maravilha, eu gostei. E mais, eu tenho comigo na drive as músicas que eu gostaria que vocês tocassem no momento exacto em que eu e ala estivermos aqui.
– Está bem, nós estamos à vossa disposição.
– E o que vocês vão comer? Já pensou em alguma coisa especial? Se não, eu quero sugerir-lhe o prato de casa.
– Está bem, eu aceito o de casa. – Disse o Batinho.
Batinho ficou preocupado e queria que aquele momento fosse um e único para ambos e que ela pudesse sentir o reflexo de uma felicidade que viria à tona em seus braços. Correu para uma agência de flores, infelizmente era tarde demais para ser atendido. A agência já tinha fechado e ele queria oferecer à Carla, não apenas um jantar, mas uma memória. As memórias são reflexos de um momento. As memórias são estímulos da saudade que invade o claustro do coração de qualquer um. A saudade não tem identidade, não tem fronteira, não tem cor, não tem alarme. Ela simplesmente chega e penetra nas pistas lobulares, transportando consigo memórias de todas as marcas.
Algumas boas e outras ruins. Mas, naquele momento, naquele exacto momento, registar nas estradas neuronais da mulher mais linda do mundo, do meu mundinho, era a minha maior missão. Entreguei a drive e nela estavam selecionadas todas as músicas que excitam felicidades e tragédias juntos. Nela se podia ouvir Jesus Romero Adriano, Anselmo Ralph, Marcos Sassungo, e tudo fiz para que o momento pudesse ser especial. Mas, alguma coisa aconteceu na hora H.
[Silêncio total].
– Batinho, isso tudo para mim?
– Sim, Carla, é tudo para ti. Mas vamos aproveitar o momento. Agora me diga como vai a sua família?
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