Текст книги "Um Julgamento de Contos de Fadas a Colarinho Branco"
Автор книги: Marcos Sassungo
Жанр: Современная зарубежная литература, Современная проза
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– Minha família está bem e a tua?
– A minha também está fixe. Sinta-te à vontade ao te servires e bom apetite.
– Obrigada. – Respondeu a Carla.
Tudo estava tão silencioso e o calar do silêncio falava mais alto. Apenas a música de Marcos e das colheres se abraçavam cada vez mais, esperando que eu diga alguma coisa. As áreas da broca e de Wernicle do meu cérebro ficaram bloqueados. Eu olhava para ela apaixonadamente e ela simplesmente comia e comia, mas tão vagarosamente; o centro motor da minha fala ficou entupido com o brilho da Beleza de Carla. Convidei toda minha atenção a uma reunião monológica: O que vou falar para ela? Será que esse é o momento certo para lhe pedir em namoro? E se ela disser não? Haaa Deus! Me ajude, eu não quero estragar esse momento e deixá-la desconfortada.
Enfim, o medo por dentro encobriu a minha coragem e fez-me um réu diante dos meus sonhos. Seríamos as pessoas mais felizes, se tivéssemos a coragem de atravessar a ponte do medo, pois todas as nossas maiores e melhores realizações estão a um minuto da coragem. Coragem para fazer diferente. Coragem para andar na contra mão da vida. Coragem para pagar o preço da dor e de certo, ninguém quer sofrer. Ninguém quer sentir a dor. Os normais hoje foram loucos ontem ao tentarem enfrentar a loucura par serem o que são hoje. Não se pode desistir de um sonho, de uma ideia e da construção de um pensamento, pois a honra e o reconhecimento são dados aos corajosos. Pense, realize, tente, faça, faça de novo, e de novo, não desista até alcançar a perfeição.
Naquele momento, o jantar terminou, agradecemos aos garçons e estávamos aí pela rua. Era já noite e estávamos a caminhar pausadamente. Olhei para ela e ela, sorrindo, disse:
– Obrigada pelo jantar, adorei.
E foi assim que eu ganhei coragem. Peguei nas mãos dela e sentámos-nos sobre um passeio e juntos observámos as estrelas. Havia milhares delas no céu e o luar estava a reluzir o máximo do seu brilho possível.
– Abraça-me forte. – Disse ela.
Eu, tímidamente, abracei-a fortemente e isso convidou o meu desejo insatisfeito de a beijar. Foi quando ela mesma aproximou os seus lábios dos meus e eu fui beijado detalhadamente. Eram os lábios dela nos meus e havia, entre nós, um casamento de emoções e desejos incontroláveis.
– Pára! Pára, por favor! Estamos na rua. – Disse ela com uma voz trémula.
– Está bem, eu páro. É meu primeiro beijo e tu és minha primeira namorada e eu quero aprender a engatinhar no amor e estar contigo sempre. Quero que o roteiro desse filme não termine nunca.
– Você promete ser o meu fiel namorado e comigo casar?
– Prometo, querida! Sabes, enquanto estávamos a andar, estava eu a pensar em mil e uma maneiras de dizer isto, mas, agora que você me deu a oportunidade, gostaria de te dizer o quanto és importante para mim. Quando eu te vi, pela primeira vez, eu tive a certeza de que serias a minha namorada e eterna esposa. Eu prometo ser teu amigo, companheiro, prometo ser…
– Não prometas nada, por favor! – Disse a Carla.
– Mas eu juro que prometo. É que tu não imaginas às vezes em que fiquei a pensar em ti e na maneira de como dizer tudo o que me vinha à alma. Por mim mesmo, por Deus e pelos meus pais, Carla, eu vou amar-te e prometo responder a qualquer lágrima que derramares por minha causa. É que eu nunca pensei que me apaixonaria tanto assim por alguém, uma vez que nunca cheguei à imaginação de me ver apaixonado um dia. E tu és tudo o que eu preciso.
Enquanto eu pronunciava tais palavras de promessas e promessas, ela chegou e me beijou novamente e, desta vez, foi emocionante e delongo.
– Amanhã é dia de aulas e tu precisas chegar a tempo para jantar com a tua família. E eu vou andando.
– Está bem, Carla, vá com Deus. Amanhã, na escola, nos vemos.
Beijámo-nos novamente e despedimo-nos. Mas acontece que ninguém queria sair do lado do outro. Estávamos loucamente apaixonados e perdidos nessa viagem de contos de fadas. Aquela foi a minha maior noite. Certificar-se de que a mulher dos seus olhos, aquela que você tanto esperou, finalmente aceita pousar na estrada das emoções consigo, essa, sim, foi a minha maior noite.
Cheguei a casa, jantei com a minha família e tranquei-me no meu quarto para reviver em pensamento cada momento registado nos meus feixes de neurônios, de tão alegre que estava.
Mas duas semanas depois, Lulú chegou em minha casa e disse à minha irmã que queria falar comigo. Recebi-a em nossa casa, mas, ela disse que seria melhor termos a conversa fora de casa. Atendi o seu convite e fomos ter a conversa no campo de futebol que ficava junto da casa, ali onde as danças de bolas acontecem. Concentrando os seus olhos nos meus ela disse:
– Batinho, eu só queria dizer que eu te amo e tu pressupões a pessoa mais importante da minha vida. Por favor, eu te amo, és o meu tudo.
– Sabes que nós não podemos namorar. És uma amiga e limito-me simplesmente a isso. Além do mais, Lulú, eu tenho minha namorada e ela me ama. Eu não posso romper o meu namoro logo agora que nem sequer fez quarenta e oito horas. Infelizmente, não poço.
Ela começou a chorar, a chorar e a chorar. E eu senti-me culpado por ser a razão do derrame daquelas lágrimas das quais eu não merecia. Queria poder fazer alguma coisa para evitar aquele acidente emocional que triturava a dor daquela mulher amiga. O mundo dela desabou e finalmente ela saiu da minha presença, correndo como da outra vez e eu, nem pude fazer nada, infelizmente. Fiquei tocado com tudo o quanto ela me disse.
– Lulú, o que você tem?
– Nada, amiga.
– Teus olhos estão vermelhos como se tivesses chorarado. – Disse a Amanda.
– Sim, Amanda é o Batinho. Ele está namorando uma colega da escola e a mim disse que simplesmente me via como amiga e nada mais. Ouvir isso dele fez sentir-me infeliz, pois ele é a razão da minha vida, entendes amiga?
– Haaa. Querida, sinto muito, mas não precisas de exagerar, amiga. E não fiques assim não, tu és linda e mereces o melhor. Tem coragem de admitir o facto e supera essa situação, pois só te vai deixar triste e amargurada.
– Eu não consigo! Ele é o homem da minha vida, percebes? Agora, por favor, deixe-me em paz, eu preciso de ficar sozinha.
– Eu entendo, querida. Por favor, deixe-me te ajudar e não exite em ligar-me, estou contigo nessa situação. Até mais tarde.
Os dias se passaram e Lulú estava deprimida. Não queria saber de coisa alguma e estava difícil aceitar o facto de que o homem da sua vida estivesse amando outra pessoa. Os dias foram cinzentos e tenebrosos, não comia direito e nem bebia até que ela atentou contra a vida, tentando impedir a dor da alma. O suicida, na maioria das vezes, não quer livrar-se da vida, mas sim da dor e do sofrimento. Só que a única maneira de o fazer é tirando a própria vida e assim infelizmente algumas pessoas acabam-no fazendo, não porque o desejassem fazer, mas porque a dor lhes parecia tão colorida que a única saída para elas foi a porta da morte desejada.
E sabendo da situacão, Amanda visitou a Lulú.
– Amiga, eu sei que continuas triste por essa situação e talvez eu converse com o Batinho hoje.
– Não faças isso, por favor. Que ele viva a felicidade que o seu coração desejou. Eu não poço interromper esse momento mais importante da vida dele. Disse Lulú.
– Está bem amiga, mas, por favor, só não fiques assim. Desse jeito preocupas todo mundo que se preocupa contigo e quer o teu bem. Há uma palestra hoje na cidade baixa. Gabriel Reis estará a palestrar hoje às vinte horas, no hotel Roma e gostaria de ir contigo. O que me dizes?
– Ok, amiga, pensando bem, eu aceito. Vem buscar-me hoje, às dezoito e meia.
– Na boa. – Disse a Amanda.
O relógio marcou a hora certa e lá estava Amanda, preparada para aquela noite de quinta-feira junto com a sua amiga Lulú.
– Onde é que vocês vão, assim tão animadas? Perguntou a Mãe da Lulú.
– Bem, vamos a uma palestra na cidade baixa.
– E quem estará?
– Gabriel Reis, um dos escritores e pastor de Moçambique, chegou hoje à cidade e a sua palestra é às vinte horas.
– Que bom, Amanda. És uma óptima amiga, filha. Obrigada, por apoia-lá nesse momento. Ela nem sequer me disse o que aconteceu para estar assim tão triste. Mas vão, filhas, cuidem-se.
– Está bem, tia. – Disse a Amanda.
Ambas saíram e foram ao evento, que reuniu mais de três mil pessoas. Havia gente do Bié, Caála, Luanda e Benguela.
– Sejam be. – vindos, o meu nome é Carlos e estou aqui para agradecer a todos vocês que se fazem presentes nesse evento. Durante o ano, o nosso palestrante tem estado em vários lugares, por todo país de Moçambique, Cabo Verde e hoje está connosco aqui em Angola, no Huambo. Minhas senhoras e meus Senhores, com vocês, Gabriel Reis.
A platéia aplaudiu a presença do escritor palestrante e pastor Moçambicano que, ao entrar, para a sala, cumprimentou a platéia respeitosamente e disse:
– Eu quero agradecer o carinho deste povo maravilhoso. Já ouvi falar muito de Angola e variadas vezes quis aqui estar. Mas a agenda e os contratempos sempre estiveram na base da razão da minha ausência. Entretanto, estou feliz por estar aqui, estou feliz por vocês. E hoje eu quero trazer uma reflexão a respeito das mulheres. As mulheres, muitas vezes, têm sido vítimas da sociedade. E eu percebo que aqui há mais mulheres do que homens e, por isso mesmo, vou aproveitar o momento para me dirigir a elas.
[Houve um silêncio total].
– Gostaria de começar por te fazer uma pergunta, mulher. Quem tu és mulher. Quem és face a esse claustro universal? Estaria eu a falar para uma mulher que se sente desiludida por conta de tudo o que a vida já lhe ofereceu ou estaria eu a falar para uma mulher que se sente motivada pela vida e pelos sonhos? Palavras como tu és linda, inteligente, simpática, ainda continuam a fazer sentido na tua vida?
[A plateia continuou em silêncio].
– Eu sei. – Disse Gabriel Rocha e acrescentou: acredita, quem tu és, mulher, é uma pergunta que procura relevar a importância da tua identidade. Sabes do por quê? Porque és linda, única e inteligente. És digna de amor e afeição. Tu nunca és demais numa relação, sempre e sempre serás suficiente. És preciosa e o teu valor excede o pré-sal das profundezas do mar. És uma pedra rara. És a obra mais impressionante que Deus criou. E sabes o quê mais? Quando eu leio o relato da criação, em Gênesis, fico impressionado. Eis que tudo o que era e estava feito, era muito bom. E esse advérbio de quantidade “muito” vem relevar propositadamente a tua importância, mulher. Por isso, nunca estiveste só. Estiveste sempre acompanhada. Por isso, tu és preciosa e o teu valor é também precioso. A tua dignidade é maior do que o número de produtos que usas no teu cabelo. A tua dignidade é maior do que aquele par de sapatos que tens ou que sonhas ter. A tua dignidade é maior do que aquele perfume, aquele vestido ou aquele carro do sonho. Em outras palavras, a tua dignidade e caráter não têm preço. O teu carácter e dignidade são maiores do que o número de mulheres que gostariam de ser como tu e maiores do que a quantidade de homens que gostariam de te ter como mulher. É que o vosso valor, mulheres, é imensurável e não tem preço. Gostaria de que vocês entendessem que o vosso valor é maior do que qualquer nota alta da faculdade. O valor da tua dignidade excede qualquer nota alta de matemática, física ou histologia médica. Sabem do por quê?
< E continuou olhando para a platéia e disse: >
-É que aos olhos de Deus tu és uma mulher amada e respeitada incondicionalmente e independentemente daquilo que pensas ser. Não importa se és uma mulher forte o bastante para enfrentar a vida ou se te sentes fragilizada diante dessa imposição machista contemporânea. Não importa se tu, mulher, abandonaste a escola ou se te consideras uma erudita por frequentar uma pós-graduação ou doutoramento. Não importa se te consideras uma super “miss” pelo teu corpo esbelto, ou te consideras menos digna diante desse padrão inatingível de beleza ou talvez digas “Gabriel, eu sinto-me uma mulher perdedora, sabes…” Independentemente de quem pensas ser, tu és especial. E a realidade é que tu pertences a Alguém que desistiu de tudo, inclusive deu a Sua vida por ti. Porque és uma mulher forte, poderosa, és uma mulher capaz de mudar o mundo. Mulheres como Ruth, Esther, Raab, Maria, mudaram o mundo apenas por um passo, uma atitude. E essa mudança foi para sempre. E dentro de ti habita a mulher com os mesmos poderes e as mesmas capacidades, com a mesma força de mudar o mundo externo ao seu redor. E é tua responsabilidade encontrar essa mulher dentro de ti e deixá-la voar, deixá-la livre, sem medo de enfrentar o futuro, sem medo de abraçar os sonhos que te abraçam e que te desafiam para que sonhos inimagináveis possam ser realizados… Deus vê em ti qualidades que o mundo não vê. Gostaria de vos convidar a sonhar, a largar tudo o que vos acomoda e incomoda. E sem medo do fracasso, abracem sonhos, abracem novos desafios, abracem a esperança e a vida. Obrigado, a todos vós que estivestes aqui. Obrigado a organização. Obrigado pelo convite.
E a platéia aplaudiu a mensagem do palestrante e todos ficaram comovidos. Logo depois da palestra, a plateia foi convidada a tomar um chá, dentro do hotel. Foi um momento de fazer amigos e trocar experiências.
– Obrigada, amiga, por me trazer nesse evento. Eu amo'te.
– De nada, querida, eu aprendi muito nesta noite e estou feliz que tenhas gostado. – Disse Amanda.
– Eu vou esquecer o Batinho definitivamente, acredite. Eu tenho valores e eu creio que a felicidade não está isenta de perdas e frustrações. Logo, eu tenho muito valor para ficar a chorar por um homem que nem sequer me vê como mulher, Amanda.
– Que bom, amiga. Que bela decisão!
E ambas escalaram num abraço longo e afectuoso. Saíram motivadas do evento, com uma nova perspectiva. Duas semanas depois, a Lulú aceitou o convite para estudar direito internacional, na França. Ela aproveitou a oportunidade e despediu-se da família e das amigas. E desde aquele dia, nunca mais se ouviu falar dela nos passeios da cidade.
Capítulo III
Expetactiva
Saí do asfalto pintado da dor, caminhei nas entrelinhas da concupiscência, da agonia. Tudo me era obscuramente inacessível naquela época. O emprego, o amor, os amigos, o mentor. Eu não passava de um sonhador agressivo e com uma mente pintada de fantasias e de contos de fadas. Uma hora e quarenta e seis minutos da tarde deste dia de sexta-feira, estou aqui no clastro do primeiro emprego. Gravo a minha história nos escritórios da vida e planeio o meu futuro no cataclismo da esperança e comigo o homem que nasce e também comigo cresce, reclama das malandrices que nego e das malandrices que adio.
Quem sou eu? Um teatro, uma ilustração, uma alma, um banquete de alegria, uma festa de dor, um rio, uma nuvem, um agressor de sonhos agressivos? Quem sou eu? Uma chance, um porvir, uma lágrima, uma gota de dor e súplica a essa alma que infringe as leis das minhas vértebras lombares e me coloca numa posição de um soldado inexperiente e fraco? Sou certamente um vazio, uma cor sem cor, um alfabeto não alfabetizado, um apêndice da dor e da agonia da alma. Esses Contos de Fadas merecem uma intervenção cirúrgica a Colarinho Branco. Sim, um julgamento, talvez, a essas histórias inescrupulosas.
Naquela época, saí, multiplicadas vezes, em busca da minha inserção social e, desta vez, como sempre, os caminhos estavam a dar lugar à ilha de Luanda, esta ilha que sempre conheceu as pisadas da minha alma soldado.
– Rafael, a mana Aurora chama por ti, para tomares o pequeno-almoço. Disse-me uma das primas com quem eu vivia.
– Já aí vou. – Respondi.
Depois de reunir as ideias e organizar os pensamentos do dia, acanhadamente me aproximei da mesa:
– Bom dia, tia Aurora, como foi à noite?
– Bom dia, Rafa. A noite foi boa graças a Deus e a tua? – Bem, graças a Deus, também. Vem e come alguma coisa connosco. Deixa de ser tímido, homem, serve-te.
– Está bem, titia.
Servi-me do chá, do pão e do fiambre que aí estava presente. Logo após o mata-bicho, limpei o chão, tomei banho, arrumei-me e, como sempre, usei a gravata que, desta vez, era cinza para combinar com a felicidade cinza do meu desespero ao desemprego. Olhei para o espelho e diante daquele reflexo obscuro, gritei com uma voz que tinha a força de uma orquestra «hoje vou conseguir um emprego». Ao olhar para o meu reflexo, vi lágrimas coloradas a cinzas, típicas aos que terei durante o dia. Limpei-me e saí do banheiro, despedi-me da tia e dos primos que aí estavam, desci as escadas, cumprimentei as tias do bombo assado e da ginguba torrada, dos pinchos e das cervejas que anestesiavam a dor do sofrimento daquela sociedade capitalista e desci a rua Rainha Ginga. E dessa vez, o caminho certamente viria dar lugar à ilha de Luanda.
A confiança me abraçou e entusiasticamente segui a pé, nos passeios daquelas ruas. Ao caminhar, a minha mente ficou enfeitada com os pensamentos dela. Ela era a minha companhia em todos os lugares e eu sabia lá no fundo que seria para sempre. Ela era um impulso aos meus sonhos, uma mola incrível que alargava os meus sonhos. Converso com ela todos os dias, inclusive quando ela não está do outro lado. Como estás e o que será que estás a fazer? O que farei para ir ter contigo? Enfim, só tendo emprego e juntar os meses, me poderia dar as condições necessária de ver ela um dia, pois eu a amava, apesar de tudo. Mas, ao despertar os meus olhos à realidade, vi o hotel “Seis Palmeiras”.
Há Vagas.
Aproximei-me, abri a porta…
– Bom dia, senhor.
– Bom dia, em que o poço ajudar? Respondeu o recepcionista com um ar de entusiasmo.
– Eu sou Rafael, tenho o ensino médio concluído, embora tenha vindo do interior do país, eu fiz vários cursos: Inglês, Administração e Gestão de Empresas, Gestão pelo Poupa Lá e outros. E vou em busca de uma experiência de trabalho a uma das vagas que estejam disponíveis.
–És do interior, mas de que província?
– Sou natural da capital ecológica.
– Ah, sim, no planalto central, Huambo. Que bom, os meus pais também são de lá e gostaria muito de poder ajudar, Sr. Rafael, mas, infelizmente, não vou poder. Acabámos de preencher a última vaga que necessitávamos, mas eu asseguro-te que entrarei em contacto contigo, assim que o hotel precisar de alguém. Por favor, deixe o seu Curriculum, se não se importar.
– Claro, senhor, eu não me importo. Aqui está.
– Está bem. – Disse ele.
– Senhor, eu quero agradecer a atenção e dizer que estou preparado para qualquer informação que achar útil para mim.
– Está bem, Sr. Rafael, eu farei isso.
– Com licença e bom trabalho.
– Obrigado e boa sorte para ti.
– Obrigado.
Saí e segui em frente… Passando de hotel a hotel, naquela rua direita da ilha. Enfim, apaziguei os meus pensamentos na beira da praia. Sentado e ouvindo a canção das ondas do mar, contemplando de perto o casamento perfeito entre o sol e o mar, que de longe se podia ver o reflexo da cor azul a testemunhar. Aproveitei o momento mágico tentando conectar os meus pensamentos com os dela. Foi assim que vi um homem que andava com a Bíblia aberta por toda a rua a falar de Jesus. Usava terno e gravata e era de estatura média.
– Bom dia, senhor, o que te traz aqui por esse lugar tão calmo e deserto de alegria?
– Talvez diria que a forte razão de estar aqui é a falta de emprego.
– E você o que te traz por essas artérias, falando de Jesus?
–É uma história longa, posso sentar-me?
– Claro estás à vontade.
– Eu sou o Danilo Tomás, mas me chame de Jonas.
– Eu sou o Rafael Quintas. O meu primeiro nome é o mais amistoso.
– Prazer em conhece. – te, Rafael. – Disse ele.
– O prazer é meu. Mas eu queria entender a metamorfose, Danilo para Jonas.
–É isso aí Rafael…É disso que eu quero lhe contar.
– Então, me conta logo.
– Eu entendo e reconheço que tudo o que tenho e tudo o que sou é resultado da intervenção de um Deus que amorosamente me concedeu. Eu também estou à procura de uma oportunidade de emprego novamente.
– Novamente?… Perguntei eu.
– Sim, novamente, porque eu já trabalhei numa companhia de petróleo, algum tempo, mas pedi demissão.
– A sério?! Você pediu demissão, por quê?
– Eu vivia maritalmente com uma mulher. Eu amava-a muito e profundamente. Ela era o motivo da minha felicidade. Ela era tudo do que eu precisava. Trabalhava em offshore em Cabinda, mas os meus amigos, todas as vezes que eu chegasse, diziam eles que eu era um veado. Um corno.
– A sério?! – Perguntei sorrindo.
– Ya meu… Então eu nunca dava atenção ao que eles diziam, pois eu era feliz com ela, mesmo assim. Eu percebi que talvez fosse a minha ausência que fizesse ela ter tais comportamentos, então decididamente, pedi demissão à empresa para ficar com ela, sabes… Dar aquela atenção de que a mulher tanto precisa.
– Ya, eu sei, bro. – Disse eu.
– Mas me enganei ao tomar uma decisão prematura. Pedi demissão e duas semanas depois, ela largou-me. Saiu de casa, disse que queria ir embora para a sua mãe, mas, quando percebi, ela já estava com outro tipo. E eu fiquei destruído por dentro e despedaçado por fora. A dor era enorme e cheguei a pensar que não sobreviveria a essa cirurgia da vida. Sem emprego, sem a mulher que eu amo, o mundo estava a parecer um iceberg a desgastar-se. Se a visão da morte no cristianismo fosse vista da mesma maneira como no islamismo agressivo, eu acho que já me esvairia na madrugada trôpega da morte.
– Nem ouses pronunciar tais coisas. – Disse eu. És um homem de fé, cara, és um campeão. Você venceu, vem dar-me um abraço.
Foi assim que eu percebi que, numa relação, o homem é o elemento mais fragilizado, emocionalmente. Ao contrário da mulher, ele não suporta a ideia de ter que partilhar a mulher com outro homem e isso machuca-lhe a alma, levando-o a cometer barbaridades da vida, inclusive a estrada da morte consciente.
Abraçámo-nos, longamente e acresceu:
– E eu sentia-me como se estivesse num labirinto, no estômago de um peixe como Jonas. Eu colocava ela no centro da minha felicidade e sucesso. Porque ela era a minha motivação. E esse é o problema de muitos casais, namorados e não só, às vezes. E agora que estou desperto, eu falo de Jesus e oro muito para que ele me devolva o emprego de volta.
– Uaooo, fiquei impressionante com a sua história. E o mais importante é ainda a auto-motivacão que você mesmo tira dela. Meus parabéns. – Disse eu.
– E você, conta-me alguma coisa. Tem namorada, há quanto tempo vem procurando emprego? – Perguntou.
– Eu sou do interior do país: Huambo.
–É da província do Huambo?! – Perguntou.
– Sim, sou. Cheguei em Março. Preciso de um emprego para continuar a minha formação em Engenharia de Petróleos.
– Que bom, Rafael…
– Pai, pai, pai, o paieeeee.
– Ho! Daisy, há quanto tempo estás aqui?
– Bem, estou aqui há um minuto e o pai está aí dormindo e sorrindo.
– Desculpa, filha, papai estava a viajar no passado. Lembranças, sabes?
– Que lembranças?
– Lembranças do passado.
– E o que é o passado?
– Bem, o passado é um tempo em que a gente passou, viveu, conviveu, amou… Passado não tem volta. O que fazemos fica para trás e nunca volta mais, mas elas podem continuar vivas dentro de nós, na caixa das lembranças.
– Lembras-te de ontem quando fiz a cama para ti?
– Sim, lembro.
– Bem, é o passado. Lembrámos, mas já não vivemos.
– Ummm, que interessante! Pai, vem comigo, eu quero mostrar-lhe uma coisa.
– Agora mesmo?
– Sim, pai, agora. Vem comigo logo, por favor.
– Umummm, com uma condição.
– Qual condição, paizinho, fala logo!
– Preparas uma panqueca, hoje, à noite. Pode ser?
– Ummm, vamos ver, agora, vem.
– Está bem, vamos, filha.
O meu instinto paterno foi levantado para ficar um tempo com a minha filha cassula. Vivíamos na mesma casa, e nem sempre tinha tempo de a ver. Saio cedo de casa e volto tarde e, na maioria das vezes, eu não vejo a minha filha, excepto quando ela já está na cama. Eu queria ler uma história para ela e brincar com ela como fazem os pais normais do cinema. Os meus filhos são a única razão de viver. E o meu maior ministério é levá-los para o céu e um dia poder ver todos eles lá. Mas eu sou um pai falho, não leio a Bíblia com eles, embora a minha esposa leia, eu queria poder ficar ao lado deles. Foi assim com o Batinho, foi assim com a Tetinha e queria que fosse diferente com a Daisy. Eu amo os meus filhos, e quero ser um pai presente, mas infelizmente o meu esforço pelo crescimento da minha empresa me separa da minha família. Do tesouro mais precioso que um dia já terei nessa vida.
Enfim, entrei no quarto da minha filha.
– Pai, olha só o que aconteceu com a minha boneca da Barbie. Ela sumiu, ajude-me a encontrá-la, por favor.
– Está bem, filha, onde ela estava, ultimamente?
– Deixei ela aqui hoje pela manhã, mas já não a consigo achar.
– Ho! Barbie, Barbie, minha neta, onde estás?
– Pai, não chame ela assim. Ela vai sentir vergonha e não vai aparecer. Tem de chamar ela de Cristina.
– Tá bom…Cristina. Olha ela aqui.
– Onde, pai?
– Aqui, ho! Ela estava escondida, atrás do armário.
– Ho! Cristina, amiga, eu estava a procurar-te. Mas o meu pai te achou. Pai eu e a Cristina agradecemos muito.
– Não tem de que, filha, vem cá dar um beijo ao papai.
– Tá bem, paizinho.
– Eu amo-te, filha.
– Eu também te amo, pai.
– Agora, vai brincar com a Cristina. Depois vamos ao shopping.
– Que legal, pai.Cristina, a gente vai ao shopping! Gritou ela, alegremente.
O Sr. Rafael saiu do quarto da pequena Daisy e voltou ao seu quarto, sentou-se novamente na cama e o silêncio nos quatro cantos trouxeram-lhe memórias dos tempos idos e repletos de uma vivência que não se apagara.
Todos sabiam o nome dela, os meus amigos, meus irmãos, minha família e eu.
– Rafael, como está a Mayara?
– Ela está bem. Falámos hoje. E nesse momento, está no trabalho.
– Onde ela trabalha? – Perguntou o meu tio.
– Na IBM, uma companhia de computadores com essa marca. É multinacional, pois eu vejo muito nas empresas computadores com a marca IBM.
– Meu sobrinho, tu és um sortudo. Namorar uma brasileira. Tens de trazê-la cá. – Disse meu tio ironicamente.
– Ela quer muito vir aqui. Ela e os seus amigos. Acho que ela me ama, tio, o que achas?
– Cuidado, filho. Cuidado com essas relações à distância. Mas como foi que a conheceste? Eu não percebo como é que alguém, pode criar sentimentos por uma pessoa que vive a mais de uma milha de distância oceânica e dizer que está amando tal pessoa. – Disse meu tio.
– Bem, isso é fácil. Ultimamente, fazer uma mulher gostar de ti é a coisa mais fácil. Atenção mais gratidão gera confiança. A confiança multiplicada pelo respeito mútuo, gera afecto. E o afecto somado ao carinho, gera amor. É simples assim. E o amor dentro de um relacionamento é imprescindível e eu comparo-o com uma mistura homogénia. Há quem diga que no relacionamento há sempre alguém que ama mais, que se doa mais, que dedica mais tempo e afecto à relação. Mas, no contexto da mistura homogênea, tome como exemplo um copo de água com açúcar ou água com sal. O copo representa a relação; a água, a mulher e o ingrediente adicionado ou o solvente, o homem. Não importa açúcar ou sal. A Bíblia manda o homem amar e não se emocionar, porque a emoção é, em certo momento, exclusiva à mulher. Portanto, quanto mais solvente acrescer, mais doce ou salgada fica a água e quanto menos solvente, menos salgado ou menos doce ela fica. E isso é proporcional às relações afectivas. O homem é o solvente, o copo é a relação e a água é a mulher e quanto mais ele se doar, mais doce a relação fica. Ou seja, quanto mais ele amar, mais retorno ele terá dessa sua entrega.
– Estou impressionado, sobrinho.Tu estás babão por ela. Mas como foi que a conheceste?
– Era dezembro daquele dia de sexta-feira. Não sei que horas eram, mas aqui já era tarde. Podiam ser vinte e três horas e mais alguns minutos, aproximadamente. Eu disse oi a uma mulher que estava online. Mayara. Para confirmar eu vi o seu perfil e a retroalimentação positiva às minhas mensagens, fizeram-me estar ainda mais interessado. Ela disse que era cristã. E aí eu comecei a gostar. Agente falava todos os dias e isso podia ser, a qualquer hora, tio. Eu chamava-a por nomes carinhosos como Darling, May, Princesa e ela a mim, chamava de amor. As palavras são tão fortes que eu comecei a acreditar na possibilidade de estar com ela, de me casar com ela. A foto do seu perfil vagava no meu telefone o tempo todo. Eu fiz um vídeo com as suas fotos juntando as minhas com as dela. Fiz uma homenagem a ela no Facebook e ela, era o motivo de toda a minha precipitação emocional. Eu prometi à mãe dela que visitaria o Brasil.
– A sério?!
– Sim, eu conheci-a e falei com a sua mãe, suas irmãs, e suas amigas, principalmente. Eu conheci outras pessoas através dela. E hoje eu quero mandar para ela um presente pelos correios.
– O que você vai mandar?
– Vestidos africanos.
– Está bem, filho. Eu só peço para ires com muita calma e sejas tu mesmo. Não iludas de forma alguma a menina. Fala da tua situação económica e diz que não vais poder chegar ao Brasil porque, pelo que me parece, não tens dinheiro para bancar essa viagem.
– Verdade. Mas eu vou fazer algo especial. Vou hoje ao mercado do São Paulo ver se compro um trajo africano.
– Está bem, mas depois tens de voltar para ajudares a tua tia com o que poder.
Saí de casa, apressadamente. E na extremidade parietal um tom de felicidade, e no miocárdio, uma gota de pressa. Comprei os dois vestidos, mas a razão da minha emoção começou a perturbar os meus ideais. O que será que ela está a fazer? Ela não é minha namorada como poderia mandar isso? Enfim, os desastres dos meus pensamentos colidiram com as mensagens que ela enviava, naquela época. Rafael, eu amo você como amigo. A nossa amizade é longa, mas eu não consigo ver você diferente, amigo. Desculpa. Eu poderia ajudar, mas, nessas circunstâncias, eu não posso. – Disse ela.
É que havia me declarado a ela no dia anterior. Queria que ela pudesse ser a minha namorada, esposa, a mulher com quem eu queria dividir a vida enquanto vivesse. E eu, bem eu, cai num profundo desequilíbrio emocional. Eu fiquei triste. Não consegui encarar a vida da mesma maneira, pois a mulher de que eu gostava estava a dizer-me o contrário daquilo que seria a minha expectativa.O tempo passou, e quando voltei da Rússia, a estudo, conheci ainda mais a Esmeralda. O amor da minha vida, a mãe dos meus filhos.
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